Cisto Hidático por Echinococcus Granulosus
Danielle Langan, DO, Josh Greenstein, MD, & Barry Hahn, MD
Departamento de Medicina de Emergência, Hospital Universitário Staten Island Northwell Health
Tradução: Gabriel C L Miranda
Apresentação Clínica
Anamnese
Uma mulher de 69 anos buscou atendimento na Emergência por fraqueza, dor abdominal em quadrante superior direito e náusea intermitente há 2 meses, com piora nos últimos três dias. Ela imigrou recentemente para os Estados Unidos vinda da Argentina. Ela relatou uma perda não intencional de 9Kg ao longo do último ano. Ela negou histórico cirúrgico prévio.
Exame Físico
Pressão arterial | Frequência cardíaca | Frequência respiratória | Oximetria de pulso | Temperatura |
---|---|---|---|---|
135/90 | 112 | 16 | 98% | 38,2 ºC |
Geral: Bom estado geral, sem desconforto aparente.
Pele: Sem erupção cutânea, anictérica.
Cardíaco: Taquicárdica, sem sopro audível.
Respiratório: Ausculta pulmonar limpa, sem ruídos adventícios.
Abdome: Depressível, sem distensão, dor à palpação em hipocôndrio direito, hepatomegalia.
Imagem e exames laboratoriais
A paciente tinha uma eosinofilia de 20% e aumento de transaminases (TGO 89, TGP 120).
Diagnóstico Diferencial
- Carcinoma hepático
- Cisticercose
- Abscesso hepático
- Obstrução de via biliar
- Hipertensão portal
- Abscesso hepático piogênico
- Síndrome Budd-Chiari
- Cólica biliar
Achados em Ultrassonografia à Beira do Leito
Lesão cística no lobo hepático direito de 15,0 x 12,5 x 16,6 altamente suspeita de cisto hidático.
Achados na Tomografia Computadorizada (TC)
TC de abdome/pelve mostrando uma lesão cística multilocular circunscrita contendo múltiplos cistos menores no lobo hepático direito, associado a distensão da cápsula hepática.
Diagnóstico Diferencial Baseado na Imagem
- Cisto hidático hepático
- Metástases císticas ou necróticas
- Abscesso hepático piogênico
- Cisto simples
- Cistoadenoma
Cone/ou Evolução Clínica
Após os exames de imagem na Emergência, a paciente foi internada para seguimento do tratamento. Teste sorológico confirmou o diagnóstico de cisto hidático por Echinococcus granulosus. A paciente recebeu albendazol e apresentou leve melhora sintomático depois de alguns dias de tratamento. Ela teve alta com plano de seguimento cirúrgico e com gastroenterologia para remoção eletiva de cisto e colecistectomia.
Diagnóstico
Cisto Hidático por Echinococcus granu losus
Discussão
A equinococose é uma infecção parasitária rara causada por uma tênia que pode apresentar-se de duas formas: equinococose cística (hidatidose) e equinococose alveolar. Echinococcus granulosus e Echinococcus multilocularis estão entre as espécies mais comumente envolvidas. Usualmente o patógeno é adquirido na infância, apresentando longo período de incubação até a idade adulta. Localização geográfica é um fator de risco, ocorrendo endemicamente na América do Sul, Oriente Médio, África subsaariana e China ocidental.
O ciclo de vida do Equinococo geralmente envolve cachorros como hospedeiro definitivo e ovelhas como hospedeiro intermediário. A patogênese da infecção acidental em humanos se dá pela transmissão fecal-oral de ovos do parasita. Os sintomas apresentados dependem da localização, tamanho e pressão em tecidos adjacentes do cisto, que desenvolvem-se 70% das vezes no fígado e 25% das vezes nos pulmões. Os cistos expandem-se a aproximadamente 1 a 5 centímetros ao ano no fígado e ligeiramente mais rápido no pulmão, apresentando taxas de mortalidade maiores com envolvimento alveolar.
Ultrassonografia é o melhor teste diagnóstico inicial, com sensibilidade de 90-95%. Achados típicos incluem um cisto único, anecóico, redondo e liso, com ou sem septações e possivelmente contendo vesículas filhas. Pode estar presente uma parede espessa ou irregular. Calcificação "em casca de ovo" é um achado ultrassonográfico comum. A ecografia pode ser usada para classificação e estadiamento do cisto. Para avaliação de cistos extra-hepáticos é preferível a tomografia computadorizada. Dentre as opções terapêuticas estão medicamentos antiparasitários, drenagem percutânea guiada por imagem ou ressecção, a depender do tamanho do cisto e apresentação clínica. Na realização de intervenção cirúrgica, é necessária cautela devido ao risco de semeadura do conteúdo cístico, podendo ocorrer choque anafilático e/ou disseminação da infecção (hidatidose secundária).
Referências
- Pawlowski ZS, Eckert J, Vuitton DA, et al. Echinococcosis in humans: clinical aspects, diagnosis and treatment. In: Eckert J, Gemmel MA, Meslin F-X, Pawlowski ZS, eds. WHO/OIE manual on Echinococcosis in humans and animals: a public health problem of global concern. Paris: World Organization for Animal Health. World Health Organization, 2001: 20-71.
- Brunetti E, Tamarozzi F, Macpherson C, et al. Ultrasound and Cystic Echinococcosis. Ultrasound Int Open. 2018;4(3):E70-E78. doi:10.1055/a-0650-3807.